O Ministério Público deve apresentar até o dia 3 de novembro a denúncia (acusação formal) contra Lindemberg Fernandes Alves, 22. Nesta sexta-feira, a Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o assassinato da estudante Eloá Cristina Pimentel, 15, e indiciou o rapaz por homicídio doloso (com intenção) qualificado, duas tentativas de homicídio doloso qualificado, disparo de arma de fogo e perigo ou periclitação da vida.
De acordo com o promotor Antonio Nobre Folgado, a denúncia tem até cinco dias úteis para ser apresentada --a data começa a ser contada a partir da próxima terça porque não haverá expediente na segunda devido ao feriado do Dia do Servidor (lembrado dia 28).
O promotor disse que o julgamento deve ocorrer em um intervalo de dez meses a um ano.
Segundo o promotor, a reconstituição ainda não tem data marcada para ser realizada mas, "é irrelevante dentro da denúncia, assim como os outros laudos periciais". "A denúncia se baseia nos testemunhos. O depoimento principal é da Nayara". Ele afirmou que reconstituição é importante para júri conhecer os detalhes do crime.
Quanto à ação do Gate (Gate Grupo de Ações Táticas Especiais, da PM), que negociou com Lindemberg e invadiu o apartamento, o promotor afirmou que o fato de ter havido ou não tiro antes da invasão também é irrelevante para a promotoria. "Para o promotor isso não tem a menor relevância em relação ao crime de homicídio cometido por Lindemberg", disse.
De acordo com o promotor, juridicamente, o Gate tinha autorização para invadir o apartamento, uma vez que "havia duas vidas em risco lá dentro". "Isso está patente a todo momento no depoimento de Nayara".
Ele afirmou ainda que, no depoimento a adolescente relatou que as duas foram submetidas a situação de tortura psicológica e que em certos momentos Eloá chegou a pedir que Lindemberg atirasse.
Antes, o promotor chegou a fazer uma previsão de que, caso seja condenado pelo júri, Lindemberg receba pena de ao menos 25 anos de prisão.
Na denúncia à Justiça, o promotor também firmará sua convicção de que o retorno de Nayara foi tramado por Lindemberg porque ele tinha raiva dela. "Ele atirou para matar as duas meninas."
Inquérito
Segundo a assessoria da SSP (Secretaria da Segurança Pública), o pai da adolescente morta, Everaldo Santos, também foi indiciado no caso --por falsidade ideológica, uso de documento falso e porte ilegal de arma, já que havia uma espingarda no apartamento invadido por Lindemberg.
Ao todo, o inquérito tem 186 páginas com o depoimento de 26 pessoas, entre eles o de Nayara Rodrigues, 15, atingida por um tiro no rosto; dos policiais do Gate, que realizaram a invasão ao cativeiro; e vizinhos do apartamento onde morava Eloá. O documento será encaminhado ao Ministério Público Estadual.
22.out.2008/Folha Imagem |
Após receber alta médica e depor à polícia, Nayara Rodrigues deixa o hospital acompanhada do padrasto e da mãe, Andréa Araújo |
Depoimento
O depoimento de Nayara aconteceu na quarta (22), no hospital municipal de Santo André, e durou aproximadamente três horas. A adolescente estava internada desde o dia do crime, na sexta (17) após receber um tiro no rosto. Ela é considerada a principal testemunha do crime.
Em seu depoimento, Nayara disse que Eloá se descontrolou durante o cárcere privado e pediu para morrer.
"Não agüento mais, me mate, me mate. Não agüento mais ficar aqui", disse Eloá um dia antes do desfecho do cativeiro em que seu ex-namorado a manteve com a amiga Nayara. Eloá ficou mais de cem horas rendida por Lindemberg, que acabou preso.
A adolescente disse que Eloá não suportava mais ver o sofrimento das pessoas fora do cativeiro. Desesperada, Eloá começou a quebrar objetos por toda a casa e, em seguida, Lindemberg teria pego Nayara pelo pescoço e apontado uma arma para sua cabeça. Com a amiga dominada, Lindemberg perguntou para Eloá se ela queria que a "Barbie morresse".
Nayara disse ainda, em depoimento, que Lindemberg afirmava a todo momento que ela era responsável pelo rompimento do casal, já que seria conselheira sentimental de Eloá. Momentos antes da invasão do imóvel pela PM, Eloá disse ao ex-namorado que "o responsável pelo rompimento do namoro era o ciúme, o gênio e algumas atitudes dele".
Segundo Nayara, momentos antes do término do cárcere Lindemberg recebeu um telefonema e teve uma longa conversa. A menina disse acreditar, de acordo com o depoimento, que ele falava com o capitão Adriano Giovanini, negociador do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), da Polícia Militar.
Lindemberg mudou radicalmente de comportamento após a ligação. Na ocasião, muito nervoso, ele colocou uma mesa atrás da porta. Segundo Nayara, ele parecia estar desconfiado de uma possível invasão.
Na seqüência, Nayara ouviu um barulho, que não parecia uma explosão, mas um chute na porta. Ela disse que, até aquele momento, Lindemberg não havia efetuado nenhum disparo. Eloá deu um grito quando porta foi arrombada. Nayara cobriu rosto com edredom e disse lembrar ter ouvido dois estampidos e sentir um impacto em seu rosto.
Disparo
Ontem (23), o coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar prestou depoimento sobre o desfecho do caso. Depois, à imprensa, admitiu que os policiais do Gate podem ter interpretado um barulho qualquer como um tiro, ao ser questionado sobre a possibilidade.
Ele, no entanto, reiterou que mantém a convicção de que seus subordinados ouviram o tiro antes de invadir o apartamento.
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