A adolescente Nayara Rodrigues, 15, baleada no rosto após ser mantida refém por Lindemberg Fernandes Alves, 22, em Santo André, afirmou em depoimento nesta quarta-feira (22) à Polícia Civil que não ouviu nenhum tiro antes da invasão da Polícia Militar na última sexta-feira (17).
Após depor por cerca de cinco horas no hospital onde esteve internada, a jovem deixou o local na noite desta quarta acompanhada da mãe. Ela apenas acenou para os jornalistas. Segundo o chefe de polícia da seccional de Santo André, Luís Carlos Santos, a jovem declarou que Lindemberg disparou para o teto entre 15h e 16h. Questionado por jornalistas se Nayara confirmou que os tiros que atingiram as reféns partiram de Lindemberg após a invasão, o policial afirmou que "ela se cobriu, mas sabia que só ele estava lá dentro". No desfecho do seqüestro, Eloá, ex-namorada de Lindemberg, morreu com um tiro na cabeça.
Nayara é a testemunha ocular do caso e suas declarações contradizem a Polícia Militar, que afirma que invadiu o apartamento apenas após ouvir um disparo. Vizinhos do apartamento, em depoimento prestado na terça (21), também disseram à Polícia Civil ter ouvido tiros antes da invasão.
No último sábado (18), o coronel Eduardo Félix, comandante do Batalhão de Choque da PM, defendeu a atuação da equipe do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) atribuiu a Lindemberg o motivo da invasão. "Ele deu o primeiro tiro e, na hora da entrada no apartamento, ele descarregou cinco projéteis contra a polícia e as moças", afirmou na ocasião.
Volta ao cativeiro
Nayara afirmou que não tinha a intenção de retornar ao local do cativeiro, mas que foi seguindo as ordens de Lindemberg pelo telefone e se aproximando do local a pedido dele. Na porta, a jovem diz que viu a arma apontada para a cabeça de Eloá e decidiu entrar.
Em entrevista, a mãe de Nayara afirmou que não sabia que ela voltaria ao apartamento. "Segundo informação de um tenente, ela estaria voltando para negociar apenas por telefone", afirmou a mãe. Se soubesse que terminaria desse jeito, ela conta que não teria permitido o contato de sua filha com o seqüestrador. Ela acredita que a polícia poderia ter evitado o retorno de Nayara ao local.
O advogado da jovem afirmou que vai pedir indenização de R$ 2 milhões. "Vamos questionar todas as falhas que ocorreram a partir da inserção dela [Nayara] de volta ao local do crime e o risco que ela correu. Além disso, iremos questionar todos os erros desencadeados desde então", afirmou o advogado.
Punições
O coronel Eliseu Leite de Moraes, que vai apurar a ação da PM, afirmou que "o disparo ter acontecido antes ou depois da invasão não é o fator primordial do caso", apesar de admitir que toda a ação será investigada. Ele afirmou que além do depoimento de Nayara, vai analisar os depoimentos dos vizinhos e as imagens de televisão que gravaram o momento da invasão.
As possíveis punições para os policiais militares são administrativas e disciplinares, e um inquérito pode ser aberto.
Para o promotor do caso, Antonio Nobre Folgado, o principal interesse do Ministério Público é fazer a denúncia à Justiça contra o autor do crime. "Ele sabia bem o que estava fazendo", afirmou o promotor.
Lindemberg pode ser condenado por homicídio duplamente qualificado, tentativa de homicídio contra Nayara e contra um policial, cárcere privado e crime por disparo de arma de fogo. A pena mínima pode chegar a 25 anos de prisão.
-
Segundo cirurgiões dentistas, Nayara, que foi baleada na boca, se recupera bem e disse "muito obrigado" após a cirurgia
0 comentários:
Postar um comentário