HOMENAGEM A GALEGO (extraido do BLOG do TIÃO seu irmão)

MEU IRMÃO QUE VIROU SAUDADE
Tião Lucena


São cinco da manhã, lá fora algumas pessoas começam as caminhadas pela vida. Aqui onde me encontro, questiono se vale a pena lutar tanto por uma vida que fatalmente se esvai com o tempo. São devaneios de gente sentida. Ali mais adiante, na pedra fria do Santa Isabel, meu irmão espera a hora de virar saudade. Mais novo do que eu, nunca imaginei que ele fosse primeiro. Aliás, lá em casa o relógio do tempo tem caminhado invertido. Dos nove que Miguel e Emília trouxeram ao mundo, foram-se os dois mais novos. Ficamos nós, a velharia, a acumular lembranças no saldo médio do coração.

Valdemir sofreu muito, dizem que descansou. Mas nem assim o vazio no coração deixa de existir. Fará falta. Principalmente a sua bondade, seu jeito humilde, suas expressões de carinho as 24 horas do dia. Nunca o vi com cara feia, com mau humor. Mesmo nas horas de dores intensas, tinha um sorriso a oferecer, um afago a distribuir.

E sofreu dores, sofreu principalmente o descaso de uma saúde pública que não existe e, se bota a cara de fora, é só para fazer propaganda. Enfrentou, de outra parte, a insensibilidade de alguns que tinham o dever, por juramento que fizeram, de doar vidas e só viam cifrões à sua frente. E aguentou tudo isso calado, como um mártir, como um santo.

Falta inspiração e vontade para continuar. Forço a barra, contudo, para chegar aos agradecimentos. Chico Pinto, que telefonou logo cedo, expressando seu pesar. Emanuel Arruda, lá de Princesa, também falou de sua solidariedade. O amigo Neno me mandou abraço.Geordie Filho, um monteirense que conheci pela internet, encontrou meu telefone nas buscas caririzeiras e ofereceu a sua solidariedade.Meu velho companheiro de longas jornadas Clodoaldo Araújo, que ligou pela meia noite.Não esquecer, de jeito nenhum, o empenho do amigo Humberto Alexandre em conseguir vaga para o meu irmão num hospital público. Zé Maria Fontenelli, que acompanhou o martírio do meu irmão, é outro que imortalizo na galeria das minhas gratidões. Doutor Marcos Paiva, um abnegado, que de tudo fez para que Galego continuasse vivo. E, no final da lista, o vereador Dinho, um jovem que mal conheço, a quem nunca cumprimentei, mas que, quando eu e meus irmãos já não acreditávamos mais na possibilidade de levar Valdemir a uma UTI, chegou perto e com um simples telefonema abriu as portas da Unidade de Terapia Intensiva do Santa Isabel para que ele, Galego, morresse sofrendo menos.

O dia amanhece lá fora. Termino por aqui. O meu irmão espera para que o vejamos pela derradeira vez.

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