Pai de Eloá é condenado a 33 anos e meio de prisão por crimes em AL; defesa vai sugerir que ele se entregue


Carlos Madeiro.


Depois de mais de nove horas de julgamento, o ex-cabo da Polícia Militar de Alagoas, Everaldo Pereira dos Santos, pai da jovem Eloá Pimentel, assassinada pelo ex-namorado em outubro de 2008, foi condenado neste sábado (7) a 33 anos e seis meses de prisão, em regime fechado, por duplo assassinato.
Por maioria, os jurados entenderam que ele participou das mortes do delegado Ricardo Lessa (irmão do ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa) e de seu motorista, Antenor Carlotta, ocorridas em outubro de 1991.
A sentença foi dada pelo o juiz da 9ª Vara Criminal da Capital, Geraldo Amorim, que acatou a tese da acusação de homicídio triplamente qualificado. Além dele, outro ex-militar alagoano foragido, Cícero Felizardo, o "Cição", também foi julgado e condenado a 33 anos e três meses de cadeia. Além de presos, eles também foram condenados a pagar uma indenização de R$ 653 mil à família de Ricardo Lessa e de 143 mil à de Antenor Carlotta.
Além dos dois militares condenados neste sábado, outros seis já haviam sido condenados anteriormente pelo mesmo crime e já cumprem pena. Um nono participante do crime morreu. Todos seriam integrantes da "gangue fardada", uma espécie de esquadrão da morte composto por policiais que atuou nos anos 80 e 90 em Alagoas.
Para o promotor José Antônio Malta Marques, o resultado já era esperado. "As provas eram muito fortes. Eles [réus] premeditaram e assassinaram as vítimas. Com certeza o resutado fez justiça", analisou.
Além desse julgamento, Everaldo deverá enfrentar mais um julgamento nos próximos meses. Desta vez, será pela acusação de matar um morador de rua em Novo Lino, em 1990. Além disso, Everaldo ainda é investigado por uma série de crimes que teria cometido no Estado.
Com a derrota, o advogado de defesa Givan Lisboa afirmou que vai sugerir que o pai de Eloá se entregue para cumprir a pena. "Ele não manifestou essa vontade, porque aqui ele corre riscos. Mas a vida de foragido é mais difícil. Na prisão, ele tem direito a benefícios, como as progressões penais", explicou.

Atraso e confronto de laudos
Marcado para começar às oito horas da manhã, o julgamento deste sábado começou com mais de duas horas de atraso. Isso porque a sala de aula onde aconteceria o júri, em uma faculdade particular da capital alagoana, estava com problema no ar-condicionado e toda estrutura foi transferida para outra sala no mesmo prédio. O julgamento fez parte de um mutirão da Justiça alagoana para desafogar os processos com denúncia até 2005, conforme obriga a Meta 2 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Como já era esperado, Everaldo não foi ao julgamento. Antes do júri, Lisboa disse que depois da morte da filha, e a fuga antes mesmo do velório, o ex-cabo entrou em depressão. "Ele está 'morto', arrasado. Após o episódio [do assassinato da filha pelo ex-namorado], ele ficou completamente desestruturado, afinal, teve que deixar a família", afirmou.

O julgamento foi marcado por confronto de laudos. A promotoria se valeu de um laudo de um exame de DNA feito pela POlícia Civil de Alagoas de cabelos encontrados em um chapéu deixado no carro das vítimas no dia do assassinato. Segundo o promotor, a análise apontou que os pêlos eram de Everaldo. "Esse laudo é uma prova contundente, tenho convicção plena da participação dele", garantiu o promotor José Antônio Malta Marques.
Já a defesa alegou durante o julgamento que Everaldo era inocência e contestou a versão da promotoria. Durante sua explanação, ele apresentou um laudo supostamente feito pela Polícia Científica de São Paulo, que desmentiria a versão da polícia alagoana. "O laudo que tenho aqui foi feito pelo laboratório da Unicamp, que aponta que os cabelos não eram nem de Everaldo, nem de Cícero. Além disso, temos a prova testemunhal de uma pessoa que estava no carro que não reconheceu nem um dos dois entre os autores do crime", afirmou Givan Lisboa, que defendeu os dois réus e disse que ambos são vítima de "uma grande perseguição".


(Uol)

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