Aluna hostilizada na Uniban diz que expulsão é absurda



LUIZA GOULART
colaboração para a Folha Online

A aluna da Uniban Geisy Arruda, 20, --que foi hostilizada por colegas no dia 22 de outubro--, afirmou à Folha Online que a decisão da universidade de expulsá-la é absurda. A Uniban publicou anúncio em jornais de São Paulo deste domingo (8) em que afirma ter decidido expulsá-la.


Geisy foi xingada nos corredores da universidade, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), por usar um microvestido rosa. O tumulto foi filmado e os vídeos acabaram na internet. Geisy parou de frequentar as aulas --ela está no primeiro ano do curso de turismo.

"Eu fui a vítima. Como que eu posso ser expulsa? A vítima é expulsa da faculdade? Isso é um absurdo", disse.

Geisy ficou sabendo que seria expulsa por meio da imprensa e diz que está muito surpresa com a notícia. "Não tive confirmação de nada até agora, só através da mídia. É uma falta de respeito. Eu não estou acreditando que isso está acontecendo." Ela ainda não leu o anúncio nos jornais, mas disse que amanhã de manhã vai comprar os principais jornais do país para fazer isso.

Segundo a ex-aluna, na sindicância a que compareceu na última quarta-feira (4), os responsáveis pela universidade decidiram que ela voltaria às aulas na próxima segunda-feira (9), com segurança a protegendo, e que sua classe foi transferida para uma sala do outro lado do prédio.

"Quarta-feira ficou tudo certo que eu voltaria a estudar na segunda. E, de repente, eles fazem isso? Eu não estou entendendo mais nada."

A estudante contou que compareceu a universidade com os advogados para ajudar a esclarecer os fatos e descobrir quem começou a manifestação. Mas disse que a experiência foi horrível e que saiu de lá chorando. Ela diz que esperou 15 minutos para entrar na universidade e mais 20 minutos para chegar a uma sala apertada em que foi bombardeada com perguntas que não sabia responder.

"Eles queriam saber as pessoas que estavam na manifestação, quem estava sentado ao meu lado esquerdo, direito, na minha frente, atrás." De acordo com a aluna, a Uniban não procurou as imagens das câmeras do dia da manifestação porque "estão querendo abafar o caso".

Geisy informou que ficou das 14h às 20h sem tomar nem um copo de água e que os responsáveis pela universidade ficavam olhando para ela com cara feia. "Respondi as perguntas uma milhão de vezes. Eu não posso apontar alguém sem ter certeza. Falei para os meus advogados que eles estavam me tratando como se eu fosse a culpada."

Agora a estudante diz que precisa saber se a expulsão é verdadeira, e depois deve marcar uma reunião com os advogados. "Vamos ter que tomar uma atitude. Isso é inaceitável. Eu não vivo no Oriente Médio. Alguma coisa será feita."

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No anúncio, intitulado "A educação se faz com atitude e não com complacência", a Uniban afirma que a sindicância aberta para apurar o acontecimento concluiu que houve "flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade" por parte da aluna.

Segundo a nota, foram colhidos depoimentos de alunos, professores e funcionários, além da própria Geisy, para embasar a sindicância. Em seu depoimento, a Uniban diz que "a aluna mostrou um comportamento instável, que oscilava entre a euforia e o desinteresse". As imagens gravadas no dia e divulgadas na internet também foram analisadas, e os alunos identificados foram suspensos temporariamente das atividades acadêmicas.

A universidade afirma que a aluna frequentava a unidade com trajes inadequados "indicando uma postura incompatível com o ambiente" e chegou a ser alertada sobre o assunto, mas não mudou o comportamento. No dia do acontecimento, segundo a Uniban, Geisy percorreu percursos maiores para aumentar sua exposição, "ensejando, de forma explícita, os apelos de alunos".

"A atitude provocativa da aluna buscou chamar a atenção para si por conta de gestos e modos de se expressar, o que resultou numa reação coletiva de defesa do ambiente escolar."

Em entrevista ao blog do jornalista Josias de Souza, o advogado da reitoria da Uniban, Décio Lencioni Machado, disse que a aluna "sempre gostou de provocar os meninos. O problema não era a roupa, mas a forma de se portar, de falar, de cruzar a perna, de caminhar".

O advogado da estudante, Nehemias Melo, disse que ainda não foi notificado da decisão.

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