Games pagos na internet exigem supervisão dos pais, dizem educadores


Jogos gratuitos oferecem itens comprados com dinheiro de verdade.
Pais tendem a prestar mais atenção nos riscos ‘reais’ do que nos ‘virtuais’.

O game “Colheita feliz” permite a criação de uma pequena horta com verduras e legumes. No jogo presente no Orkut há diversos recursos gratuitos, como utilizar adubo para que as plantas cresçam mais rápido ou regar o solo para que as sementes não morram. Obter novos elementos, como um cão para proteger a plantação e outros animais, exige que o jogador compre créditos utilizando dinheiro de verdade.

O título com grande apelo pelo público infantil faz parte de uma nova tendência dos games on-line, que é o “item selling” (venda de itens como armaduras e armas, por exemplo) ou micro transações. “Os jogos são gratuitos, mas, para conseguir comprar um acessório específico, é necessário pagar uma quantia em dinheiro”, diz Julio Vieitez, diretor-geral da Level Up! Games, empresa especializada em jogos on-line, que tem games como “Ragnarök” e “Grand chase” que utilizam este sistema de cobrança. “É como a TV aberta e a TV por assinatura. Você pode se divertir apenas com os canais abertos sem pagar nada, mas, se quiser mais conteúdo, terá que desembolsar uma quantia em dinheiro”.

Outros títulos que fazem bastante sucesso nas redes sociais são “Buddypoke” e “Farmville”. A característica principal destes títulos é que os itens adquiridos com “dinheiro real” custam pouco se comparado ao pagamento de uma mensalidade para se jogar on-line, comuns em RPGs on-line como “World of warcraft” e “Ragnarök” (este já trabalha com o sistema de “item selling”). O jogador compra certa quantia em créditos e pode adquirir acessórios para incrementar o jogo. “Este modelo de negócios é uma tendência mundial nos MMOs, permitindo que a empresa promova melhor os jogos e que os jogadores experimentem o game antes o quanto quiserem de decidir investir nele”, explica Vieitez.


Sem controle dos pais, a criança é estimulada a jogar, exigindo mais dinheiro. É um apelo ao consumo"
O problema apontado por educadores é que este tipo de pagamento possa levar a criança ao vício pelo jogo por dinheiro, pois elas desejarão sempre comprar mais no game. “A exposição muito cedo ao consumo pode ser perigoso”, diz a professora Maria Ângela Barbato Carneiro, do núcleo de cultura e pesquisa do brincar da PUC, em São Paulo. “Sem controle dos pais, a criança é estimulada a jogar, exigindo mais dinheiro. É um apelo ao consumo”.


A coordenadora de tecnologia educacional do colégio Dante Alighieri em São Paulo, Valdenice Miratel, acredita que qualquer game pode viciar sem a mediação dos pais. “Existe o componente do vício independentemente do dinheiro envolvido [no game]. É importante que se encontre um equilíbrio para que o jogo seja uma atividade lúdica que una pais e filhos”.

As educadoras afirmam que as crianças não devem ficar sozinhas expostas ao conteúdo dos jogos e da internet. “Cabe aos pais controlar a criança”, afirma Maria Ângela. “Se ela ficar apenas jogando, a tendência é que ela consuma cada vez mais e peça mais dinheiro para gastar no jogo”. Os cuidados se aplicam para o uso da internet. “Os pais se preocupam em saber quem são os amigos do filho, mas não apresentam os mesmos cuidados com a internet, onde os perigos são piores”, conta Valdenice. “O mundo virtual fez perder a noção de riscos e é necessário ter um acompanhamento familiar para saber que sites e que jogos a criança acessa."

Uma dica para os pais é ter o controle do dinheiro dado aos filhos. “A criança deve receber uma mesada para o consumo”, explica Maria Ângela. “O importante é deixar claro que, se ela gastou o dinheiro antes do tempo, só receberá a quantia novamente no outro mês”.


A família precisa também ensinar noções de gastos com o dinheiro “virtual”. “A criança não vê o troco ao ver o pai realizando uma compra on-line”, diz Valdenice. “Por isso, a família deve estar sempre junto, os pais devem mediar o uso do jogo, participar com o filho e explicar o que acontece neste mundo”. Com limites, as educadoras afirmam que não há problema neste tipo de game on-line.


Fonte: G1

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