Vacina antigripe não salva idoso, diz estudo


Vacinar idosos contra a gripe pode não ser uma forma eficiente de prevenir pneumonia e morte, afinal. Dois estudos independentes publicados nas últimas semanas sugerem que o benefício da imunização que vem sendo observado nos pacientes é resultado de outros fatores --e não da vacina em si.
Os trabalhos, um americano e um canadense, foram os primeiros a avaliar o histórico de pacientes vacinados e não vacinados que deram entrada em hospitais com pneumonia. Em idosos, esse mal geralmente evolui a partir da gripe.
Ambos concluem que os idosos vacinados de fato adoecem e morrem menos. No entanto, esses pacientes também têm melhor nível socioeconômico e educacional --portanto, tendem a uma vida mais saudável.
Os novos resultados adicionam polêmica a um campo até agora incontroverso das políticas de saúde pública. Há pelo menos 15 anos a vacinação contra a gripe é amplamente recomendada para idosos, com base em uma série de estudos que mostravam uma redução na mortalidade dos vacinados.
Alguns países, como o Brasil, têm programas de vacinação gratuita. Só o Brasil gastou em 2006 R$ 118,6 milhões na compra de 18,6 milhões de doses da vacina. Em sua página na internet, o Ministério da Saúde faz coro: "Estimativas de estudos internacionais indicam que a vacina contra a gripe provoca redução da mortalidade em até 50% entre a população idosa".
O problema é que, até agora, as pesquisas que mostram benefício na imunização foram baseadas apenas em observações de pacientes, sem nenhum controle de outros fatores.
"Nós estamos numa caverna escura e não sabemos ainda o que acontece lá dentro", disse à Folha o epidemiologista Sumit Majumdar, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Alberta, no Canadá.
Na última edição do periódico "American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine", Majumdar e colegas começaram a iluminar a caverna.
Para testar se o benefício da vacina era real, o grupo canadense resolveu tentar responder à seguinte pergunta: qual é o efeito da vacina de gripe sobre a mortalidade de idosos no verão, época do ano em que não há vírus influenza circulando entre a população?
Usuário saudável
O estudo acompanhou de 2000 a 2002 um conjunto de 704 idosos internados no sistema hospitalar de Alberta com pneumonia. Metade dos pacientes havia recebido a vacina no inverno anterior, metade não. Mesmo sem exposição ao vírus, 8% dos vacinados morreram contra 15% dos não vacinados. Uma redução na mortalidade de 51%. Ou seja, o benefício aparece mesmo sem o vírus.
Os pacientes selecionados para o estudo também eram avaliados quanto a condições prévias de saúde e alguns hábitos -se andavam sozinhos ou se fumavam, por exemplo. No total, 36 variáveis que poderiam afetar a saúde foram consideradas. Quando os resultados do estudo foram reavaliados à luz dessas diferenças, a equipe constatou que o real efeito protetor era desprezível.
"O que nós descobrimos é que as pessoas que se vacinam são mais ricas e mais instruídas. Quando você soma isso tudo, não há um grande benefício", disse Majumdar. "Não estamos dizendo que a vacina mata as pessoas, mas que nós temos exagerado enormemente seus benefícios."
O outro estudo, conduzido por um grupo da Universidade de Washington (EUA) e publicado em agosto no periódico "The Lancet", chegou à mesma conclusão ao tentar medir o efeito da imunização na redução de casos de pneumonia num grupo de 1.173 pacientes. "Depois de ajustarmos para a presença e severidade de comorbidades [outras doenças] (...) a vacina contra influenza não foi associada a risco reduzido", afirmam os médicos, liderados por Michael L. Jackson.
Majumdar diz que os programas de vacinação são necessários, mas insuficientes. E que a única maneira de saber qual é o real benefício da vacina é conduzir estudos clínicos, algo que os governos se recusam a fazer por razões éticas -já que nesse tipo de estudo alguns voluntários não recebem a droga, para comparar sua eficiência. "Todo mundo sempre achou que o benefício era tão evidente que ninguém poderia negar a vacina a um grupo", diz Majumdar.
O Ministério da Saúde, procurado pela Folha, disse estar analisando a validade do estudo canadense.
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